5 de febrero de 2021

Adília Lopes, 3 poemas 3

50 AÑOS

Tal vez escriba
poemas
que ya he leído
que otros ya escribieron
que yo misma ya escribí
me olvido de mi vida.

50 ANOS

Talvez escreva
poemas
que já li
que outros já escreveram
que eu mesma já escrevi
esqueço-me
da minha vida

Apanhar ar, 2010
de Dobra, 2.ª edición aumentada, Assírio & Alvim, Lisboa, 2014





*


Collage de Madelaine Buttini


ARTE POÉTICA

Escribir un poema
es como atrapar un pez
con las manos
jamás he pescado de esta manera
pero puedo hablar así
sé que no todo lo que agarran las manos
es pez
el pez se resiste
intenta escaparse
se escapa
yo persisto
lucho cuerpo a cuerpo
con el pez
o morimos los dos
o nos salvamos los dos
tengo que estar atenta
tengo miedo de no llegar al fin
es una cuestión de vida o muerte
cuando llego al final
descubro que necesité atrapar al pez
para librarme del pez
me libro del pez con un alivio
que no sé expresar.

de Escribir un poema es como atrapar un pez, Nº 16, Tragaluz Editores, 2018
Colección Lusitana
Traducción de Alejandro Giraldo Gil

ARTE POÉTICA

Escrever um poema
é como apanhar um peixe
com as mãos
nunca pesquei assim um peixe
mas posso falar assim
sei que nem tudo o que vem às mãos
é peixe
o peixe debate-se
tenta escapar-se
escapa-se
eu persisto
luto corpo a corpo
com o peixe
ou morremos os dois
ou nos salvamos os dois
tenho de estar atenta
tenho medo de não chegar ao fim
é uma questião de vida ou de morte
quando chego ao fim
descubro que precisei de apanhar o peixe
para me librar do peixe
libro-me do peixe com o alívio
que não sei dizer





*

Collage de Madelaine Buttini

Yo quiero 
un par de guantes 
no sé de qué color 
para desvestir las manos 
no crea que es para esconder las manos  
que quiero es desvestir las manos  
no tengo miedo de las huellas digitales  
es para desvestir las manos  
es eso mismo sólo eso  
ni vale la pena abrir los dedos de los guantes 
dedo a dedo 
con la espátula de madera 
no vale la pena echar polvo 
de talco dentro de los dedos 
¿esos guantes sirven  
para desvestir las manos?  


cómo tiene la mano  
¿cómo es que se hizo esto?  
podría responderle así 
¡Me gusta ver la sangre!.

Traducción de Alejandro Giraldo Gil

Eu quero
um par de luvas
de que cor não sei
para desvestir as mãos
não pense que é para esconder as mãos
que quero desvestir as mãos
não tenho medo das impressões digitais
é para desvestir as mãos
é isso mesmo só isso
não vale a pena abrir os dedos das luvas
dedo a dedo
com a espátula de madeira
não vale a pena deitar pó
de talco dentro dos dedos
essas luvas servem
para desvestir as mãos?
deixe-me ver a sua mão

I 

como tem a mão
como é que fez isso?
podia responder-lhe assim
Me gusta ver la sangre!.


O decote da dama de espadas: romances
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988
Col. Plural Poesía, Poesia



Ph Miguel Manso
Adília Lopes
 María José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira 
(Lisboa, Portugal, 1960)
POETA/CRONISTA/TRADUCTORA/LECTORA
para leer + en el blog ANTOLOGÍA POÉTICA

1 comentario:

lunaroja dijo...

Qué buenos poemas!
me encantaron.

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