50 AÑOS
Tal vez escriba
poemas
que ya he leído
que otros ya escribieron
que yo misma ya escribí
me olvido de mi vida.
50 ANOS
Talvez escreva
poemas
que já li
que outros já escreveram
que eu mesma já escrevi
esqueço-me
da minha vida
Apanhar ar, 2010
de Dobra, 2.ª edición aumentada, Assírio & Alvim, Lisboa, 2014
*
Collage de Madelaine Buttini |
ARTE POÉTICA
Escribir un poema
es como atrapar un pez
con las manos
jamás he pescado de esta manera
pero puedo hablar así
sé que no todo lo que agarran las manos
es pez
el pez se resiste
intenta escaparse
se escapa
yo persisto
lucho cuerpo a cuerpo
con el pez
o morimos los dos
o nos salvamos los dos
tengo que estar atenta
tengo miedo de no llegar al fin
es una cuestión de vida o muerte
cuando llego al final
descubro que necesité atrapar al pez
para librarme del pez
me libro del pez con un alivio
que no sé expresar.
de Escribir un poema es como atrapar un pez, Nº 16, Tragaluz Editores, 2018
Colección Lusitana
Traducción de Alejandro Giraldo Gil
ARTE POÉTICA
Escrever um poema
é como apanhar um peixe
com as mãos
nunca pesquei assim um peixe
mas posso falar assim
sei que nem tudo o que vem às mãos
é peixe
o peixe debate-se
tenta escapar-se
escapa-se
eu persisto
luto corpo a corpo
com o peixe
ou morremos os dois
ou nos salvamos os dois
tenho de estar atenta
tenho medo de não chegar ao fim
é uma questião de vida ou de morte
quando chego ao fim
descubro que precisei de apanhar o peixe
para me librar do peixe
libro-me do peixe com o alívio
que não sei dizer
*
Collage de Madelaine Buttini |
Yo quiero
un par de guantes
no sé de qué color
para desvestir las manos
no crea que es para esconder las manos
que quiero es desvestir las manos
no tengo miedo de las huellas digitales
es para desvestir las manos
es eso mismo sólo eso
ni vale la pena abrir los dedos de los guantes
dedo a dedo
con la espátula de madera
no vale la pena echar polvo
de talco dentro de los dedos
¿esos guantes sirven
para desvestir las manos?
I
cómo tiene la mano
¿cómo es que se hizo esto?
podría responderle así
¡Me gusta ver la sangre!.
Traducción de Alejandro Giraldo Gil
Eu quero
um par de luvas
de que cor não sei
para desvestir as mãos
não pense que é para esconder as mãos
que quero desvestir as mãos
não tenho medo das impressões digitais
é para desvestir as mãos
é isso mesmo só isso
não vale a pena abrir os dedos das luvas
dedo a dedo
com a espátula de madeira
não vale a pena deitar pó
de talco dentro dos dedos
essas luvas servem
para desvestir as mãos?
deixe-me ver a sua mão
I
como tem a mão
como é que fez isso?
podia responder-lhe assim
Me gusta ver la sangre!.
O decote da dama de espadas: romances, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988 Col. Plural Poesía, Poesia |
María José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira
(Lisboa, Portugal, 1960)
POETA/CRONISTA/TRADUCTORA/LECTORA
para leer + en el blog ANTOLOGÍA POÉTICA
y en EMMA GUNST
1 comentario:
Qué buenos poemas!
me encantaron.
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