13 de marzo de 2012

Affonso Romano de Sant' Anna, Los desaparecidos


Fotografía de Geoffroy Demarquet


LOS DESAPARECIDOS
           
             De repente, por esos días, comenzaron
             a desaparecer personas, extrañamente.
             se desaparecía. Se desaparecía mucho
             por esos días.
                         
             Uno iba a tomar una flor ofrecida
             y se desvanecía.
             Se eclipsaba la gente entre un domicilio y otro
             o en el taxi que se iba.
             Culpable o no, se esfumaba
             al regresar de la oficina o de la orgía.
             Madres agarrando sus hijos y sus compras,
             gestantes con "tricots" y grupos de estudiantes
             desaparecían.
             Desaparecían amantes en pleno beso
             y médicos en medio de una cirugía.
             Algunos mecánicos se diluían
             -apenas conectaban el torno del día.
             Se desaparecía. Se desaparecía mucho
             por esos días.
                         
             Se desaparecía, a ojos vistas,
             y no era miopía. Se desaparecía
             incluso a primera vista. Bastaba
             que alguien  viese  un desaparecido
             y el desaparecido desaparecía.
             Desaparecía el más conspicuo
             y el más oscuro se diluía.
             Incluso diputados y presidentes se desvanecíam.
             Sacerdotes, igualmente, levitando
             iban, enrarecidos, a constatar en el más allá
             cómo los pecadores partían.
             Se desaparecía. Se desaparecía mucho
             por esos días.
                   Los actores en el palco
             entre un gesto y otro, y los de la platea
             mientras  reían.
                   No, no era fácl
             ser poeta en esos días.
             Porque los poetas, sobre todo,
                           -desaparecían.


(fragmento)


OS DESAPARECIDOS

De repente, naqueles dias, começaram
a desaparecer pessoas, estranhamente.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.

Ia-se colher a flor oferta
e se esvanecia.
Eclipsava-se entre um endereço e outro
ou no táxi que se ia.
Culpado ou não, sumia-se
ao regressar do escritório ou da orgia.
Entre um trago de conhaque
e um aceno de mão, o bebedor sumia.
Evaporava o pai
ao encontro da filha que não via.
Mães segurando filhos e compras,
gestantes com tricots ou grupos de estudantes
desapareciam.
Desapareciam amantes em pleno beijo
e médicos em meio à cirurgia.
Mecânicos se diluiam
- mal ligavam o tôrno do dia.

Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Desaparecia-se a olhos vistos
e não era miopia. Desaparecia-se
até a primeira vista. Bastava
que alguém visse um desaparecido
e o desaparecido desaparecia.
Desaparecia o mais conspícuo
e o mais obscuro sumia.
Até deputados e presidentes esvaneciam.
Sacerdotes, igualmente, levitando
iam, arefeitos, constatar no além,
como os pescadores partiam.

Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Os atores no palco
entre um gesto e outro, e os da platéia
enquanto riam.
Não, não era fácil ser poeta naqueles dias.
Porque os poetas, sobretudo
- desapareciam.

Se fosse ao tempo da Bíblia, eu diria
que carros de fogo arrebatavam os mais puros
em mística euforia. Não era. É ironia.
E os que estavam perto, em pânico, fingiam
que não viam. Se abstraíam.
Continuavam seu baralho a conversar demências
com o ausente, como se ele estivesse ali sorrindo
com suas roupas e dentes.

Em toda família à mesa havia
uma cadeira vazia, a qual se dirigiam.
Servia-se comida fria ao extinguido parente
e isto alimentava ficções
- nas salas e mentes
enquanto no palácio, remorsos vivos boiavam
- na sopa do presidente.

As flores olhando a cena, não compreendiam.
Indagavam dos pássaros, que emudeciam.
As janelas das casas, mal podiam crer
- no que viam.
As pedras, no entanto,
gravavam os nomes dos fantasmas
pois sabiam que quando chegasse a hora
por serem pedras, falariam.

O desaparecido é como um rio:
- se tem nascente, tem foz.
Se teve corpo, tem ou terá voz.
Não há verme que em sua fome
roa totalmente um nome. O nome
habita as vísceras da fera
Como a vítima corrói o algoz.

E surgiam sinais precisos
de que os desaparecidos, cansados
de desaparecerem vivos
iam aparecer mesmo mortos
florescendo com seus corpos
a primavera de ossos.

Brotavam troncos de árvores,
rios, insetos e nuvens em cujo porte se viam
vestígios dos que sumiam.

Os desaparecidos, enfim,
amadureciam sua morte.

Desponta um dia uma tíbia
na crosta fria dos dias
e no subsolo da história
- coberto por duras botas,
faz-se amarga arqueologia.

A natureza, como a história,
segrega memória e vida
e cedo ou tarde desova
a verdade sobre a aurora.

Não há cova funda
que sepulte
- a rasa covardia.
Não há túmulo que oculte
os frutos da rebeldia.

Cai um dia em desgraça
a mais torpe ditadura
quando os vivos saem à praça

e os mortos da sepultura.




Affonso Romano de Sant'Anna 
(Belo Horizonte, Brasil, 1937)
Traducido por Nahuel Santana
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7 comentarios:

  1. A mí me parece que los poetas, por una cosa o por la otra, siempre son los primeros en desaparecer (ya sea que lleven sus versos en los dedos o en la lengua).
    Muy buen poema, Emma.

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  2. Me mató el final. Me gusta el poema, aunque no lo tengo claro. La mayoría de la gente desaparece cuando se la mira, porque es difícil enfrentarse tal y como uno es a una mirada. Pero las flores no, las flores se abren valientemente para ser miradas. Una flor es entrega pura. Y sólo desaparecen ante los ojos de aquellos que no saben tomarla....Besos

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  3. Maravilloso. Sobre como los poetas se convierten en una seria amenaza.

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  4. Emma, como todos nos llevamos el poema a nuestra alma, nuestro amazonas...

    Precisamente a otro Belo lugar, que no es el Belo Horizonte de Affonso, cuyo blog suelo seguir. Sino a Belo Monte en el mato grosso. Donde la desaparición también es angustiante y creo innecearia. Te remito la noticia.

    http://rictvagencianoticias.wordpress.com/2012/03/11/la-evacuacion-de-la-tribu-kayapo-un-pueblo-indigena-de-la-region-amazonica-de-mato-grosso-en-brasil/

    Saludos a tod@s,,

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  5. El poeta, tiende a desaparecer, por no ser impune. La palabra no lo es tampoco.

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  6. Me entristeció. Y me gustó. No pude evitar una lectura política, pero ambas, la poética y la política me dejaron así, mirando el cielo en silencio.

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  7. Oh Sudaca...me pasa lo mismo. Un abrazo.

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