Fotografía de Geoffroy Demarquet |
LOS DESAPARECIDOS
De repente, por esos días, comenzaron
a desaparecer personas, extrañamente.
se desaparecía. Se desaparecía mucho
por esos días.
Uno iba a tomar una flor ofrecida
y se desvanecía.
Se eclipsaba la gente entre un domicilio y otro
o en el taxi que se iba.
Culpable o no, se esfumaba
al regresar de la oficina o de la orgía.
Madres agarrando sus hijos y sus compras,
gestantes con "tricots" y grupos de estudiantes
desaparecían.
Desaparecían amantes en pleno beso
y médicos en medio de una cirugía.
Algunos mecánicos se diluían
-apenas conectaban el torno del día.
Se desaparecía. Se desaparecía mucho
por esos días.
Se desaparecía, a ojos vistas,
y no era miopía. Se desaparecía
incluso a primera vista. Bastaba
que alguien viese un desaparecido
y el desaparecido desaparecía.
Desaparecía el más conspicuo
y el más oscuro se diluía.
Incluso diputados y presidentes se desvanecíam.
Sacerdotes, igualmente, levitando
iban, enrarecidos, a constatar en el más allá
cómo los pecadores partían.
Se desaparecía. Se desaparecía mucho
por esos días.
Los actores en el palco
entre un gesto y otro, y los de la platea
mientras reían.
No, no era fácl
ser poeta en esos días.
Porque los poetas, sobre todo,
-desaparecían.
(fragmento)
OS DESAPARECIDOS
De repente, naqueles dias, começaram
a desaparecer pessoas, estranhamente.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Ia-se colher a flor oferta
e se esvanecia.
Eclipsava-se entre um endereço e outro
ou no táxi que se ia.
Culpado ou não, sumia-se
ao regressar do escritório ou da orgia.
Entre um trago de conhaque
e um aceno de mão, o bebedor sumia.
Evaporava o pai
ao encontro da filha que não via.
Mães segurando filhos e compras,
gestantes com tricots ou grupos de estudantes
desapareciam.
Desapareciam amantes em pleno beijo
e médicos em meio à cirurgia.
Mecânicos se diluiam
- mal ligavam o tôrno do dia.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Desaparecia-se a olhos vistos
e não era miopia. Desaparecia-se
até a primeira vista. Bastava
que alguém visse um desaparecido
e o desaparecido desaparecia.
Desaparecia o mais conspícuo
e o mais obscuro sumia.
Até deputados e presidentes esvaneciam.
Sacerdotes, igualmente, levitando
iam, arefeitos, constatar no além,
como os pescadores partiam.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Os atores no palco
entre um gesto e outro, e os da platéia
enquanto riam.
Não, não era fácil ser poeta naqueles dias.
Porque os poetas, sobretudo
- desapareciam.
Se fosse ao tempo da Bíblia, eu diria
que carros de fogo arrebatavam os mais puros
em mística euforia. Não era. É ironia.
E os que estavam perto, em pânico, fingiam
que não viam. Se abstraíam.
Continuavam seu baralho a conversar demências
com o ausente, como se ele estivesse ali sorrindo
com suas roupas e dentes.
Em toda família à mesa havia
uma cadeira vazia, a qual se dirigiam.
Servia-se comida fria ao extinguido parente
e isto alimentava ficções
- nas salas e mentes
enquanto no palácio, remorsos vivos boiavam
- na sopa do presidente.
As flores olhando a cena, não compreendiam.
Indagavam dos pássaros, que emudeciam.
As janelas das casas, mal podiam crer
- no que viam.
As pedras, no entanto,
gravavam os nomes dos fantasmas
pois sabiam que quando chegasse a hora
por serem pedras, falariam.
O desaparecido é como um rio:
- se tem nascente, tem foz.
Se teve corpo, tem ou terá voz.
Não há verme que em sua fome
roa totalmente um nome. O nome
habita as vísceras da fera
Como a vítima corrói o algoz.
E surgiam sinais precisos
de que os desaparecidos, cansados
de desaparecerem vivos
iam aparecer mesmo mortos
florescendo com seus corpos
a primavera de ossos.
Brotavam troncos de árvores,
rios, insetos e nuvens em cujo porte se viam
vestígios dos que sumiam.
Os desaparecidos, enfim,
amadureciam sua morte.
Desponta um dia uma tíbia
na crosta fria dos dias
e no subsolo da história
- coberto por duras botas,
faz-se amarga arqueologia.
A natureza, como a história,
segrega memória e vida
e cedo ou tarde desova
a verdade sobre a aurora.
Não há cova funda
que sepulte
- a rasa covardia.
Não há túmulo que oculte
os frutos da rebeldia.
Cai um dia em desgraça
a mais torpe ditadura
quando os vivos saem à praça
e os mortos da sepultura.
Affonso Romano de Sant'Anna
(Belo Horizonte, Brasil, 1937)
Traducido por Nahuel Santana
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A mí me parece que los poetas, por una cosa o por la otra, siempre son los primeros en desaparecer (ya sea que lleven sus versos en los dedos o en la lengua).
ResponderEliminarMuy buen poema, Emma.
Me mató el final. Me gusta el poema, aunque no lo tengo claro. La mayoría de la gente desaparece cuando se la mira, porque es difícil enfrentarse tal y como uno es a una mirada. Pero las flores no, las flores se abren valientemente para ser miradas. Una flor es entrega pura. Y sólo desaparecen ante los ojos de aquellos que no saben tomarla....Besos
ResponderEliminarMaravilloso. Sobre como los poetas se convierten en una seria amenaza.
ResponderEliminarEmma, como todos nos llevamos el poema a nuestra alma, nuestro amazonas...
ResponderEliminarPrecisamente a otro Belo lugar, que no es el Belo Horizonte de Affonso, cuyo blog suelo seguir. Sino a Belo Monte en el mato grosso. Donde la desaparición también es angustiante y creo innecearia. Te remito la noticia.
http://rictvagencianoticias.wordpress.com/2012/03/11/la-evacuacion-de-la-tribu-kayapo-un-pueblo-indigena-de-la-region-amazonica-de-mato-grosso-en-brasil/
Saludos a tod@s,,
El poeta, tiende a desaparecer, por no ser impune. La palabra no lo es tampoco.
ResponderEliminarMe entristeció. Y me gustó. No pude evitar una lectura política, pero ambas, la poética y la política me dejaron así, mirando el cielo en silencio.
ResponderEliminarOh Sudaca...me pasa lo mismo. Un abrazo.
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