20 de septiembre de 2023

Marília Garcia, Historia natural

“Paper Butterflies”  • Fotografía de Ping Homeric
HISTORIA NATURAL

siempre dijeron
que yo tenía los ojos
de mi padre

cabello estatura
mentón caligrafía
—cada cosa de una tía

los gestos de mi madre
hoy miro a mi hija
y solo alcanzo a verla
a ella misma
                   rosa es una rosa. es una rosa
es una rosa

pienso en un poema de cacaso
y en la américa latina del futuro
que él un día quiso imaginar

miro hacia mi hija
y juntas miramos hacia
esta américa latina
del futuro

estamos en un túnel de humo
y no alcanzo a ver qué aconteció


HISTÓRIA NATURAL

sempre disseram
que eu tinha os olhos
do meu pai

cabelo estatura
queixo caligrafia
— cada coisa de uma tia
o jeito, da minha mãe

hoje olho minha filha
e só consigo ver
ela própria:
            rosa é uma rosa. é uma rosa
é uma rosa

penso num poema do cacaso
e na américa latina do futuro
que um dia ele quis imaginar

olho para a minha filha
e, juntas, olhamos para
esta américa latina
do futuro

estamos num túnel de fumaça
e não consigo ver o que aconteceu

MARÍLIA DIXIT

Cacaso señala en uno de sus manuscritos que era raro que escribiera un poema que no tuviera un origen “sospechoso”: “Tomo todo [...] Soy un cúmulo de influencias. Mi trabajo es seleccionar”.
(Cita que tomé del libro Inclusive, por cierto, una excelente obra de Mariano Marovatto sobre el viaje intelectual de Cacaso.)

La afirmación tiene un toque de arte poético y fue a partir de ella que decidí escribir un poema extraído de “História natural”. El texto de Cacaso me dejaba cada día más conmovida. Quizás porque hace poco tuve una hija, Rosa. Quizás porque estamos en esta América Latina del futuro con sólo la perspectiva de una nube de humo atravesando el continente.


Cacaso anota num de seus manuscritos que era raro ele escrever um poema que não tivesse uma origem “suspeita”: “Eu pego tudo [...] Sou um poço de influências. Meu trabalho é ficar selecionando.”
(citação que tirei do livro Inclusive, aliás, excelente trabalho de Mariano Marovatto sobre o percurso intelectual de Cacaso.)

A declaração tem um quê de arte poética e foi depois dela que resolvi escrever um poema desentranhado do “História natural”. O texto do Cacaso estava me deixando cada dia mais comovida. Talvez por ter tido uma filha há pouco tempo, a Rosa. Talvez por estarmos nesta América Latina do futuro tendo apenas a perspectiva de uma nuvem de fumaça atravessando o continente.

en Algo de bom no mundo da poesia,


Marília Garcia 
(Rio de Janeiro, Brasil, 1979)
Reside en San Pablo
POETA/TRADUCTORA/EDITORA/
CO-EDITORA DE MODO DE USAR & CO./
DOCTORA EN LITERATURAS COMPARADAS
para leer una nota por Mauro Libertella
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